sábado, 22 de novembro de 2014

QUEM DERA! Gélson Pessoa


QUEM DERA!


Quem dera!

Imagino um dia em que estarei no barro
às  vezes  quente,  às vezes lama,entre outros, 
no  mais  alto teor malcheiroso que exala  os  mortais.

Quem dera! 

Se até mesmo sob tanta terra,
naquele invólucro imóvel, apertado,
sem ar  e  escuro  a  decompor-me 
exalasse o  perfume  de  Jasmim. 

Quem dera! 

Pois essa podridão indesejável 
é  o perfume da  humanidade  vil 
que exala  sem  querer, claro,
transfigurando-se em seu estado mórbido. 

Quem dera!

Se eu  fosse, apenas fosse, sem ter que me
decompor com tanta fetidez.             

Quem dera! 

Se eu apenas fosse numa viagem
Sem ter que me ver neste estado humano
devorado  por vermes.

Quem dera!  

Assim o penso,  
assim é o meu lado material.   



Quem dera não fosse...!




_________________________ Gélson Pessoa

quarta-feira, 1 de outubro de 2014

DESILUSÕES - Claudianor D. Bento

 
      
Se você amou muito um lugar por o mesmo ter te oferecido, num passado bem distante, felicidades sem tamanho e que forçadamente, pelas artimanhas do destino, foi obrigado a abandona-lo; não espere voltar a esse lugar e reencontrar a felicidade que outrora trazia luz e brilho aos seus sonhos. Melhor mesmo seria não mais voltar, se é que queres mesmo reencontrar a tal felicidade perdida. 

Aquela felicidade ficou marcada na fotografia do tempo e a vida, em desenganos, continuou... continuou...!

As mesmas rugas que veres agora em teu rosto encontrarás em dobro se acaso voltares. As pessoas não serão mais as mesmas, o lugar não será mais o mesmo. 

O tempo tem o seu lugar, o lugar tem o seu tempo e a felicidade tem os seus momentos. Se o imprevisível destino te tirou de lá talvez tenha sido para te mostrar, descortinando as vaidades da vida, o que é a verdadeira felicidade e o que de fato é ser feliz.

A imensa saudade que sentes agora talvez seja um considerável alívio em contraste à dor de querer reviver o passado.


______________________________________ Claudianor D. bento






segunda-feira, 29 de setembro de 2014

UMA PESSOA EMPOLGADA É UMA PESSOA FELIZ - Claudianor D. Bento

Árvore da pedra da onça em Santo Antônio/RN
Uma pessoa empolgada é uma pessoa feliz.  Nunca interfira negativamente na empolgação de uma pessoa. Mesmo que o motivo da empolgação transpareça banal aos olhos alheios, esse é a causa da verdadeira felicidade que alimenta a alma dessa pessoa. E o motivo, aparentemente “banal”, agiganta-se aos olhos sublimes desse ser predestinado. Porém, que passa despercebido aos olhos da ganância vaidosa de muitos transeunte que passam. Passam... Passam...! Passam pela vida e vão. Vão para onde?

____________________________________________Claudianor D. Bento

sexta-feira, 2 de maio de 2014

DESCARTÁVEL - Ewerton Lemos

Mais uma minha antiga de que achei em um caderno esquecido num canto qualquer. Poema de contexto boêmio que descreve as amarguras do amor.



. . : : DESCARTÁVEL : : . .


Já provei nessas andanças tanta bebida
e cada dose foi pra mim uma história
componente do mosaico que é a vida
guardadas hoje num cantinho da memória

muitas mesas tortas ouviram meus lamentos
muitos copos prostituídos eu beijei
um beijo triste, doloroso e sangrento
e muitos litros - gosta a gota - eu chorei

mas, era em ti quem eu pensava em cada beijo
lembrando a foice do teu ódio eu chorava
por que ferias o meu peito tão amável?

se hoje bebo, não é mais daquele jeito
resolvi não mais chorar por quem chorava
não quero mais beber em copo descartável


_______________ elemos

quinta-feira, 1 de maio de 2014

MAIS PRAZER TENHO EU EM TE ABRAÇAR - Ewerton Lemos

Passando pra postar um soneto antigo meu, nunca antes publicado. Se o espírito não me engana, esse tem uns 10 anos de idade.



..:: MAIS PRAZER TENHO EU EM TE ABRAÇAR ::..


Muitas vezes a vida é engraçada
e nos leva por vias curiosas
a moldar tijolinhos cor-de-rosas
e enfeites de fitas enlaçadas

desfrutar das risadas mais gostosas
percorrendo contigo essas estradas
e sorrindo acordar na madrugada
deste sonho de vida caprichosa

te abraçando, amiguinha, minha alma
se eleva a tal ponto de sonhar
é verdade: esse abraço teu me acalma

é por isso que tenho que contar
num soneto que caiba nessa palma:
mais prazer tenho eu em te abraçar.


_______________ elemos

NOSSO AMOR - Pedro Neto

Temos mais uma caprichada diretamente de Nova Cruz. Novamente meu amigo Pedrinho nos brindando com um soneto.

. . : : NOSSO AMOR : : . .

Acenda uma vela para o nosso amor
Pois passa do tempo dele ser finado
O fetiche da ilusão é coisa do passado
Diagnosticado o óbito, incomoda o odor.

Desgastou e definhou até a necrose
A distância já não era só das estradas
Corria o sangue por veias envenenadas
Vida e a morte era o fim da metamorfose.

Ouvir minha voz era penitencia macabra
Ultimatos e alertas ficaram atoa no vazio
Meu amor já não te aquecia na solidão do frio.

Acabara a esperança do reencontro, como
Uma rosa teu riso abriu, secou e morreu
Dou a ultima pá de terra e digo: o culpado fui eu.


_______________ Pedro Neto

quarta-feira, 30 de abril de 2014

PARTIDA - Zila Mamede

..: PARTIDA :..

Quero abraçar, na fuga, o pensamento
da brisa, das areias, dos sargaços;
quero partir levando nos meus braços
a paisagem que bebo no momento.

Quero que os céus me levem; meu intento
é ganhar novas rotas; mas os traços
do virgem mar molhando-me de abraços
serão brancas tristezas, meu tormento.

Legando-te meus mares e rochedos,
serei tranqüila. Rumarei sem medos
de arrancar dessas praias meu carinho.

Amando-as me verás nas puras vagas.
Eu te verei nos ventos de outras plagas:
juntos – o mar em nós será caminho.


Salinas, (1958)


_______________ Zila Mamede







sexta-feira, 11 de abril de 2014

O GESTO - José Sanderson D. F. de Negreiros

..: O gesto :..


Despe o corpo, tatuado de

relâmpagos. Ensarilhas ventos

ao som da ternura e apunhalas

o horizonte. Mas dentro de ti,

o coração canta, além,

do remoto mar das tapeçarias.

Deitaste o pão e água em minha

solidão, e amo-te por me teres

amado pelo próprio amor

desprotegida, ó incendiária do repouso.




____________________ José Sanderson de Negreiros

quinta-feira, 3 de abril de 2014

SEM TÍTULO - Pedro Neto

Mais um soneto para tocar os corações boêmios... Pedro Neto, sua presença é sempre bem-vinda em nosso blog. Saravá, meu amigo!


. . : : SEM TÍTULO : : . .


Te procurei numa noite de domingo clichê
Como um peixe fora d’água atrás do mar,
Mas a única porta aberta era a do bar.
Peço uma dose, mas bastava um pingo de você.

Furava com um cigarro o guardanapo
Feito uma moça furou meu coração,
Porém, o que me queimou era como vulcão
E meu peito de papel ficou um trapo.

Queimou a cama e o lençol, queimou
Minhas carnes com sua pele febril,
Abrasou minha vida com esse amor doentio.

Pego outro guardanapo ainda aflito
E novamente estou em sua mão
Acendo outro cigarro, e você fura, outra vez, meu coração.


_______________ Pedro Neto

RESILIÊNCIA - Miguel Neto

Com vocês, mais uma composição do amigo Miguel Neto, poeta que dispensa comentários sobre sua visão do tempo tão bem representada no poema que segue:


. . : : RESILIÊNCIA : : . .


Quando a inocência protegia pela ignorância das coisas,
Nuvens negras não povoavam as cabeças despreocupadas,
As cores eram sempre claras e aos pés o caminho era calçado,
Os embates, sem inimigos, tinham o prazo de um sorriso,
Sem exigir, sempre, atitudes corajosas,
A verdade, única opção, incontestável e inflamada
Trazia em sua certeza, a certeza inábil de viver sem passado,
Mas tendo no futuro, todo o futuro que era preciso.

Das vezes em que pensamos em crescer, na verdade já é findo,
Já é roubada a proteção dos sentidos e da alma límpida,
Arcamos, dessa feita, com a sabedoria própria do homem,
Aquela, só dele, que causa a dor do aperto no peito.
Nuvens de chumbo que no horizonte já vem vindo,
Naturais, agora, que a inocência é ínfima,
Naturais tanto quanto os males que o consome,
Naturais quanto o fim do mundo que jaz desfeito.

As perdas são normais nesse trajeto, aos nossos olhos, se são dos outros.
As nossas são sempre irreparáveis, injustas e em má hora.
Dessas, a princípio, nada é capaz de trazer conforto,
Qualquer palavra, por tentativa, tem por efeito a piora.

Quando um pedaço se vai desse mundo completo,
Guardamos o que é possível de sua presença,
Mantemos intactos sua lembrança e nosso afeto,
Lutando contra a lacuna e o buraco que se formam,
Exorcizando o poder da distância.

O tempo trará a resiliência;
A crença, a esperança;
Os que ficaram, a continuidade;
A saudade, a presença;
O coração, a verdade.



_______________ Miguel Neto

quinta-feira, 27 de março de 2014

NOITES AMADAS - Auta de Souza

..:: NOITES AMADAS ::..

Ó noites claras de lua cheia!
Em vosso seio, noites chorosas,
Minh’alma canta como a sereia,
Vive cantando n’um mar de rosas;

Noites queridas que Deus prateia
Com a luz dos sonhos das nebulosas,
Ó noites claras de lua cheia,
Como eu vos amo, noites formosas!

Vós sois um rio de luz sagrada
Onde, sonhando, passa embalada
Minha Esperança de mágoas nua...

Ó noites claras de lua plena
Que encheis a terra de paz serena,
Como eu vos amo, noites de lua!


Macaíba - Agosto de 1898.


________________ Auta de Souza


domingo, 23 de março de 2014

ETERNO SONHADOR - Claudianor D. Bento

 Antiga Rua Grande - Santo Antônio/RN

..:: Eterno sonhador ::..


Descendo a ladeira da velha Rua Grande
ao lado de casas que com o tempo se vão
banzeiro e cansado na boca da noite
andando tropeço e já quase dormindo
me vejo novamente naquele menino.
Levando reprimenda do vigário em ação:

- O que estás fazendo aí, menino, na calçada da Igreja.
   Fosses batizado? Senão...

Do lado da rua e correndo agora
passa despercebida, a mercearia do Seu Jorge.
Epa!  É a esquina para o cemitério. Recordei.
Em branco fiquei e gelado também
na calada da hora em silêncio continuei
voz rouca estrondava e pasmado fiquei:

- O que é que tu queres, menino?
  Tenho prego, vela e querosene.
  Não vês tu que estás atrapalhando
  a procissão das almas a caminho da igreja.

No silêncio da noite ao miado de gato:
- miauuuuu! "Sai pra lá gado das almas"!

Em subúrbio morava e a passos largos rezava...

Na Rua do Motor, e da delegacia também.
Sombras de outrora vagavam pela rua...
Errantes e num eterno vai e vem!

De súbito esbarrei: onde fui me meter!

- Tem um Sequilho aí pra mim, Dona Iaiá?
- Ora tenha graça! Será folguedo. Passa menino!

Era tarde e no beco da delegacia só a solidão me ouvia:

- Solta os elos do meu braço, menino, preciso correr!
  Ninguém meu Deus...
  Loretão te pega! Lembrei.  Ou seria o Cabo Cabral?
- Corre que a Cumade Fulozinha te pega!
  Dizia o Cabo, com o seu cachorro de fogo.

Agora acelerando com força superior
Chegando à Rua da Quixaba que o vento me levou
porém sem ver nada, uma falinha murmurou:

- Passa moleque, tu não viu nada. Ouviu?
- Moleque atrevido. Onde já se viu!

Muitos metros à frente, na 13  cheguei
e já ofegante, minha casa avistei.
Coração saltando de batimentos em tambor
olhos agudos de medo, justifica o clamor.

- Ah não! Com o medo surge a vertigem!
  Só pode ter sido isso...

Batidas na porta e sem forças entrei.
Atilado ao destino certo, a passos lentos,
doces e conhecidas vozes escutei:

- Acorda menino, já tens 8 anos, hora de trabalhar,
  tens que nos ajudar.

Dentro das mesmas vozes outra voz esbravejou.
A realidade triste dessa vez me acordou.
Ao berros e gritos o patrão “Ricássio” bradou:

- Acorda “produtor”, hora de trabalhar,
  tens que me ajudar,
  pois riquezas tenho que juntar!
  Estás mirando ou sonhando acordado?
  Até a cara molhou...
  Por acaso estás perdido, agora?

- Não, agora não...
  me perdi lá na infância em um tempo,
  que, há tempos, me levou!

Descendo a ladeira da velha Rua Grande
ao lado de casas que com o tempo se vão
banzeiro e cansado na boca da noite
andando tropeço e já quase dormindo
me vejo novamente naquele menino.



_____________ Claudianor D. Bento






sábado, 22 de março de 2014

CHEGUEI AO MONTE DO GALO - Júlio Targino

MONTE DO GALO EM CARNAÚBA DOS DANTAS/RN

..:: CHEGUEI AO MONTE DO GALO ::..

Cheguei ao monte do galo
De sete pra oito horas
Ao começo da ladeira
Visitei Nossa Senhora.

Eu vi Bom Jesus dos Passos
Esticado no caixão
No começo da ladeira,
Sexta feira da paixão.

O que eu vi lá no monte
Nunca me sai da memória
Ali só sendo milagres
Da mãe de Deus das Vitórias.

Quem vai ao Monte do Galo
Tem prazer e alegria
Só em ver tantos milagres
Da sempre Virgem Maria.



_____________ Júlio Targino

Referencias:

Pessoa, Gélson Luís. Salto da onça, de vila a cidade, 232 a 233. Ed. IMEPH, 2014.



Júlio Targino, natural de Serra de São Bento/RN,  se considerava santoantoniense de coração. Andava pelas feiras da região vendendo o seu famoso remédio natural à base de jerimatea*. Poeta popular, oferecia sua mercadoria cantarolando versos do tipo:

“jerimateia tem um cheirinho diferente
Jerimateia  tá curando tanta gente.
Jerimateia tem um cheirinho de fulô
Jerimateia tá curando toda dô”.



*Jerimateia –Jaramataia(Nome científico:Vitexgardneriana) (Família:LAMIACEAE).



sexta-feira, 21 de março de 2014

Claro que o blog é feito para amigos divulgarem, assim como nós, os trabalhos pessoais. 

Sendo assim, que haja esse meu como incentivo para novas postagens essa minha, vamos aquecer o blog:


IMPERFEITO


É...
quando a coisa complica desse jeito
e a verdade é dura e indigesta,
quando o mundo dá voltas imperfeito
e nos deixa de fora dessa festa,
aparece no peito uma ferida,
uma dor desmedida que só sara
quando a vida, que gira e nunca para,
amanhece tranquila e traz no peio
outro amor imperfeito como agora.


_______________ elemos

quinta-feira, 20 de março de 2014

DESTARTE - Ewerton Lemos

..:: DESTARTE ::..


Quero uma música simples
Que fale de um dia qualquer
De um sol que sobe sorrindo
E a gente acordando feliz

Quero acordes suaves
Como as tardes de verão
Que tenham o cheiro das flores
Que falem um pouco de mim

Quero uma letra esguia
Que tenha o barulho da chuva
Lavando os tetos das casas
Deixando a tarde cheirosa

Adoro o sabor das palavras
Mastigo, engulo e traduzo
Um verdadeiro banquete
Destarte sigo cantando


_______________ elemos

DIGITALIZAÇÃO DA ALMA - Claudianor D. Bento


..:: Digitalização da alma ::..
     (Duas caras)

Se na digitalização da tua sublime face a “verdade” se avistasse
por onde da estampa da imagem vibra a alegria angelical.
Se por acaso por detrás dessa visão, em suma, principal
entre os pixels visíveis a admirável alma também se mostrasse.

Em que a humildade e a virtude que dizes ter, e a tua moral...
Tudo isso, de relance, por entre os muitos pixels se revelassem.
Mesmo que por pouco tempo à tua consciência chegassem,
verias a verdade que de fato marca esse teu inspirador ideal.

Perceberias que nem tudo nesse teu imenso circo idolatrado
onde vives sob máscaras num mundo de fingimento idealizado
e expondo essas verdades, agora, diante dessa digital ironia.

Tu! Um ser vaidoso e confiante, surpreendido ficarias
ao perceber que tudo o que, a tempos, ostentavas e dizias
não passava de pura falsidade, arrogância e hipocrisia.


_________________Claudianor D. Bento – dezembro de 2011