terça-feira, 31 de maio de 2022

POR JANEIRO - Ferreira Itajubá

Imagem; Pinterest


Noites ungidas de claros vinhos,

Plenas de rosas, noites lavadas.

Cheias de idílios pelas quebradas,

De eflúvios raros pelos caminhos...

 

Noites de insónias e desalinhes,

De serenatas pelas calçadas...

Noites de trovas abemoladas

Como gorjeios de verdelinhos...

 

Trazei-me sempre, noites de enfeite,

Todas as coisas dessa redoma:

Chuvas de incenso, marés de leite,

 

Matando o gérmen do desengano

Que me tortura, noites de goma,

Primeiras noites claras do ano!






_________________________ Ferreira Itajubá



sexta-feira, 14 de junho de 2019

AMOR PROIBIDO - Ione Medeiros Santana de Moura


– Amor proibido, foi tão lindo o que ouve entre nós.
Você veio para mim como um vento veloz,
Tão veloz que não percebia,
Quando deu conta, em seus braços me perdia,
Nos seus braços me perdia
Apaixonada para você me entregava... Era como um sonho.

O que faço sem você?
Você finge que não liga para mim
E me deixa sofrer esse amor bonito
Cheio de pecado e prazer.

De amor e de pecado, de pecado fui
Aprendendo e descobrindo o prazer
O jeito de amar, o jeito de querer.
O que eu sentia era tão forte
Que não sabia o que fazer.
Amor proibido.


_________________ Ione Medeiros Santana de Moura


A CASA QUE A FOME MORA - Antonio Francisco


Imagem ilustrativa



A Casa que a Fome Mora
Eu de tanto ouvir falar
Dos danos que a fome faz,
Um dia eu sai atrás
Da casa que ela mora.
Passei mais de uma hora
Rodando numa favela
Por gueto, beco e viela,
Mas voltei desanimado,
Aborrecido e cansado.
Sem ter visto o rosto dela.

Vi a cara da miséria
Zombando da humildade,
Vi a mão da caridade
Num gesto de um mendigo
Que dividiu o abrigo,
A cama e o travesseiro,
Com um velho companheiro
Que estava desempregado,
Vi da fome o resultado,
Mas dela nem o roteiro.

Vi o orgulho ferido
Nos braços da ilusão
Vi pedaços de perdão
Pelos iníquos quebrados,
Vi sonhos despedaçados
Partidos antes da hora,
Vi o amor indo embora,
Vi o tridente da dor,
Mas nem de longe via a cor
Da casa que a fome mora.

Vi num barraco de lona
Um fio de esperança,
Nos olhos de uma criança,
De um pai abandonado,
Primo carnal do pecado,
Irmão dos raios da lua,
Com as costas seminuas
Tatuadas de caliça,
Pedindo um pão de justiça
Do outro lado da rua.

Vi a gula pendurada
No peito da precisão,
Vi a preguiça no chão
Sem ter força de vontade,
Vi o caldo da verdade
Fervendo numa panela
Dizendo: aqui ninguém come!
Ouvi os gritos da fome,
Mas não vi a boca dela.

Passei a noite acordado
Sem saber o que fazer,
Louco, louco pra saber
Onde a fome residia
E por que naquele dia
Ela não foi na favela
E qual o segredo dela,
Quando queria pisava,
Amolecia e Matava
E ninguém matava ela?

No outro dia eu saio
De novo a procura dela,
Mas não naquela favela,
Fui procurar num sobrado
Que tinha do outro lado
Onde morava um sultão.
Quando eu pulei o portão
Eu vi a fome deitada
Em uma rede estirada
No alpendre da mansão.

Eu pensava que a fome
Fosse magricela e feia,
Mas era uma sereia
De corpo espetacular
E quem iria culpar
Aquela linda princesa
De tirar o pão da mesa
Dos subúrbios da cidade
Ou pisar sem piedade
Numa criança indefesa?

Engoli três vezes nada
E perguntei o seu nome
Respondeu-me: sou a fome
Que assola a humanidade,
Ataco vila e cidade,
Deixo o campo moribundo,
Eu não descanso um segundo
Atrofiando e matando,
Me escondendo e zombando
Dos governantes do mundo.

Me alimento das obras
Que são superfaturadas,
Das verbas que são guiadas
Pro bolsos dos marajás
E me escondo por trás
Da fumaça do canhão,
Dos supérfluos da mansão,
Da soma dos desperdícios,
Da queima dos artifícios
Que cega a população.

Tenho pavor da justiça
E medo da igualdade,
Me banho na vaidade
Da modelo desnutrida
Da renda mal dividida
Na mão do cheque sem fundo,
Sou pesadelo profundo
Do sonho do bóia fria
E almoço todo dia
Nos cinco estrelas do mundo.

Se vocês continuarem
Me caçando nas favelas,
Nos lamaçais das vielas,
Nunca vão me encontrar,
Eu vou continuar
Usando o terno Xadrez,
Metendo a bola da vez,
Atrofiando e matando,
Me escondendo e zombando
Da Burrice de vocês.


___________________ ANTÔNIO FRANCISCO



sábado, 18 de agosto de 2018

UM NOVO BRASIL EM CORDEL - CRISPINIANO NETO


Que era pra branco burguês
Abrindo as portas pra o preto,
Pra o filho do camponês
Que vivia desde a infância
Condenado à ignorância,
Sem diploma voz e vez!

E o Brasil que era malhado
No plano internacional
Tendo por imagem apenas
Futebol e carnaval
Mudou muito, hoje é de fato,
Um País que é candidato
A potência mundial.

Só precisa aprofundar
As conquistas do momento,
Este ciclo virtuoso
De luz e empoderamento
Pra se chegar ao pináculo
E fazer-se o ESPETÁCULO
Que se quer, DO CRESCIMENTO!"



_________________________ Crispiniano Neto

sábado, 25 de março de 2017

Protetores da guerra - Rodrigo Slama

IMAGEM: O ovo cósmico (Salvador Dali)

Escutei.
Não me disseram, foi verdade.
A cidade está nas mãos de quem faz o mal.
Sei bem, pois convivemos com isso faz tempo.
Afastem de mim a sujeira!
Afastei de mim a palavra primeira.
Ouvimos tiros, e disparos não são legais.
Havia um misto de bravura que não me fez notar
A morte de justiças e a enganação.
Afastem de mim a dor triste,
Faça-me um manjar do melhor que existe.
Jurei lutar, mas desse jeito só que partir,
Não. Não vou fechar os olhos que um dia me fizeram sorrir.
Eu sei que no destino a vida não se edifica,
Ficaremos bem.
Basta dar cinquenta reais a polícia.
O mundo anda perdido!...
Inocente é condenado previamente, toma um tiro.
Esqueçam. A verdade não existe assim!
E de repente quem te protege
É o mesmo que te faz cair.



_______________ Rodrigo Slama



sexta-feira, 24 de março de 2017

Luiza 1924 - SINHÁ


Quando soube
que seu coração estava fraco
o meu cambaleou,
quis cair em você,
entrar
corpo adentro.
caberíamos folgados,
o seu coração e o meu,
no continente peito seu.
é que pessoa como você,
forte com a vida,
gasta mesmo o coração,
quem sabe dois dão conta,
dão, num dão?
quando soube
que faltava ar pra você,
respirei cada vez mais forte,
pra guardar o máximo de ventania
que couber em mim
e soprar em você.
quando nos encontrarmos
será como aquelas catástrofes naturais,
conheceremos a força dos ventos.
tudo preso aqui.
só posso respirar quando nos
olharmos.
minha falta de ar
é todo ar que guardo pra você.
quando soube
que tinha água no seu pulmão,
pensei,
água procura mesmo jeito,
caminho
pra desaguar no mar
e você é esse mar inteiro,
cada vez mais cheio.
denso.
calmo.
calma,

meu mar.


______________ Sinhá


A Magia da poesia - Lêda Maciel


Nas madrugadas, colho palavras
Brilho do sol
Raiar do dia, manhã
Já é poesia.
Planto-as
Nas estrelas, nas pedras
Nas folhas, nas flores
Criaturas.
Emoção
No lugar mais secreto
De um coração.
Renovo a vida
À poeta que mora em mim
Com o canto dos pássaros
No cheiro do jasmim.
Orvalho.
Molha minha esperança
Pingo de chuva beija a vidraça
E Deus. Fonte
Faz-me ser rio
Para te encontrar.
Você

Que é meu mar.


_________________ Lêda Maciel


quinta-feira, 23 de março de 2017

Mágoas da seca - Claudianor D. Bento


 (Refrão)
Sem pensar caminhar,
sem direção seguir
ao destino que Deus dará!

Quando as folhas, ao sol, tostaram
em tarde cinzenta e escaldante
do meu orgulho só lágrimas ficaram
em uma pavorosa dor agonizante!

Peguei o que pude em sorte
ao pouco que a estiagem deixou
e uma tristeza profunda, de morte,
ao coração sentido me assaltou!

Nem sei o que vou fazer
nem menos o que me espera
nem muito menos o que dizer
se minha alma ficou na terra!

Na esperança que venha a chuva
os dias tristes parecem não acabar
então me traz notícias, a saúva,
que a barra no céu há de desaguar!

Sabedoria igual não tem
criaturas, essas, de meu Deus
voltam todos os sonhos meus
nessa angústia que vai e vem!

Mas, Deus traz sabedoria à gente
então acabemos com essa arrogância
e de muitos, essa loucura demente
dando um basta enfim a ganância!

Mais preservação da natureza
muita saúde aos biomas
nesse ecossistema de aromas
de força natural e sublime beleza!

Só assim, daqui, desse meu lar não sairei
pelas veredas de caminho incerto
nesse sofrimento contínuo e indigesto
e ao meu lugar só na senilidade o deixarei!

(Refrão)
Sem pensar caminhar,
sem direção seguir
ao destino que Deus dará!


____________ Claudianor D. Bento


quarta-feira, 23 de novembro de 2016

O chamado - Zila Mamede


O chamado

A terra de minha origem primitiva
me chama.
Circula-me nas veias o cansaço
de suas raízes.
A seus anos me devolvo
e a seus abismos me abandono.
O chamado da terra é um chamado
que não pode ser ouvido:
é um afago da terra
tendo cheiro de campina amanhecida,
que modela o meu sangue
como um soprar de vento
na tarde
dos canaviais.



________________ Zila Mamede


Monólogo de um bisturi - Henrique Castriciano

Monólogo de um bisturi 
A Papi Junior 



Primeiro o coração. Rasguemo-lo. Suponho
Que esta mulher amou: tudo está indicando
Que morreu por alguém, este ser miserando,
Misto de Treva e Sol, de Maldade e Sonho.

Isto não me comove: adiante! Bisonho
Fere, nevado gume! E, ferindo e cortando,
Aço, mostra que tudo é lama e nada, quando
Sobre os homens desaba o Destino medonho...

Fere esse braço grego! E as pomas cor de neve!
E as linhas senhoris que a pena não descreve!
E as delicadas mãos que o pó vai dissolver!

Mas poupa o ventre nu, onde repousa um feto;
Por que hás de macular o sono fundo e quieto
Desse verme feliz que morreu sem nascer? 


_________________ Henrique Castriciano