sábado, 25 de março de 2017

Protetores da guerra - Rodrigo Slama

IMAGEM: O ovo cósmico (Salvador Dali)

Escutei.
Não me disseram, foi verdade.
A cidade está nas mãos de quem faz o mal.
Sei bem, pois convivemos com isso faz tempo.
Afastem de mim a sujeira!
Afastei de mim a palavra primeira.
Ouvimos tiros, e disparos não são legais.
Havia um misto de bravura que não me fez notar
A morte de justiças e a enganação.
Afastem de mim a dor triste,
Faça-me um manjar do melhor que existe.
Jurei lutar, mas desse jeito só que partir,
Não. Não vou fechar os olhos que um dia me fizeram sorrir.
Eu sei que no destino a vida não se edifica,
Ficaremos bem.
Basta dar cinquenta reais a polícia.
O mundo anda perdido!...
Inocente é condenado previamente, toma um tiro.
Esqueçam. A verdade não existe assim!
E de repente quem te protege
É o mesmo que te faz cair.



_______________ Rodrigo Slama



sexta-feira, 24 de março de 2017

Luiza 1924 - SINHÁ


Quando soube
que seu coração estava fraco
o meu cambaleou,
quis cair em você,
entrar
corpo adentro.
caberíamos folgados,
o seu coração e o meu,
no continente peito seu.
é que pessoa como você,
forte com a vida,
gasta mesmo o coração,
quem sabe dois dão conta,
dão, num dão?
quando soube
que faltava ar pra você,
respirei cada vez mais forte,
pra guardar o máximo de ventania
que couber em mim
e soprar em você.
quando nos encontrarmos
será como aquelas catástrofes naturais,
conheceremos a força dos ventos.
tudo preso aqui.
só posso respirar quando nos
olharmos.
minha falta de ar
é todo ar que guardo pra você.
quando soube
que tinha água no seu pulmão,
pensei,
água procura mesmo jeito,
caminho
pra desaguar no mar
e você é esse mar inteiro,
cada vez mais cheio.
denso.
calmo.
calma,

meu mar.


______________ Sinhá


A Magia da poesia - Lêda Maciel


Nas madrugadas, colho palavras
Brilho do sol
Raiar do dia, manhã
Já é poesia.
Planto-as
Nas estrelas, nas pedras
Nas folhas, nas flores
Criaturas.
Emoção
No lugar mais secreto
De um coração.
Renovo a vida
À poeta que mora em mim
Com o canto dos pássaros
No cheiro do jasmim.
Orvalho.
Molha minha esperança
Pingo de chuva beija a vidraça
E Deus. Fonte
Faz-me ser rio
Para te encontrar.
Você

Que é meu mar.


_________________ Lêda Maciel


quinta-feira, 23 de março de 2017

Mágoas da seca - Claudianor D. Bento


 (Refrão)
Sem pensar caminhar,
sem direção seguir
ao destino que Deus dará!

Quando as folhas, ao sol, tostaram
em tarde cinzenta e escaldante
do meu orgulho só lágrimas ficaram
em uma pavorosa dor agonizante!

Peguei o que pude em sorte
ao pouco que a estiagem deixou
e uma tristeza profunda, de morte,
ao coração sentido me assaltou!

Nem sei o que vou fazer
nem menos o que me espera
nem muito menos o que dizer
se minha alma ficou na terra!

Na esperança que venha a chuva
os dias tristes parecem não acabar
então me traz notícias, a saúva,
que a barra no céu há de desaguar!

Sabedoria igual não tem
criaturas, essas, de meu Deus
voltam todos os sonhos meus
nessa angústia que vai e vem!

Mas, Deus traz sabedoria à gente
então acabemos com essa arrogância
e de muitos, essa loucura demente
dando um basta enfim a ganância!

Mais preservação da natureza
muita saúde aos biomas
nesse ecossistema de aromas
de força natural e sublime beleza!

Só assim, daqui, desse meu lar não sairei
pelas veredas de caminho incerto
nesse sofrimento contínuo e indigesto
e ao meu lugar só na senilidade o deixarei!

(Refrão)
Sem pensar caminhar,
sem direção seguir
ao destino que Deus dará!


____________ Claudianor D. Bento