Com vocês, mais uma composição do amigo Miguel Neto, poeta que dispensa comentários sobre sua visão do tempo tão bem representada no poema que segue:
. . : : RESILIÊNCIA : : . .
Quando a inocência
protegia pela ignorância das coisas,
Nuvens negras não povoavam
as cabeças despreocupadas,
As cores eram sempre
claras e aos pés o caminho era calçado,
Os embates, sem inimigos,
tinham o prazo de um sorriso,
Sem exigir, sempre,
atitudes corajosas,
A verdade, única opção,
incontestável e inflamada
Trazia em sua certeza, a
certeza inábil de viver sem passado,
Mas tendo no futuro, todo
o futuro que era preciso.
Das vezes em que pensamos
em crescer, na verdade já é findo,
Já é roubada a proteção
dos sentidos e da alma límpida,
Arcamos, dessa feita, com
a sabedoria própria do homem,
Aquela, só dele, que causa
a dor do aperto no peito.
Nuvens de chumbo que no horizonte
já vem vindo,
Naturais, agora, que a
inocência é ínfima,
Naturais tanto quanto os
males que o consome,
Naturais quanto o fim do
mundo que jaz desfeito.
As perdas são normais
nesse trajeto, aos nossos olhos, se são dos outros.
As nossas são sempre irreparáveis,
injustas e em má hora.
Dessas, a princípio, nada
é capaz de trazer conforto,
Qualquer palavra, por
tentativa, tem por efeito a piora.
Quando um pedaço se vai
desse mundo completo,
Guardamos o que é possível
de sua presença,
Mantemos intactos sua
lembrança e nosso afeto,
Lutando contra a lacuna e
o buraco que se formam,
Exorcizando o poder da
distância.
O tempo trará a
resiliência;
A crença, a esperança;
Os que ficaram, a
continuidade;
A saudade, a presença;
O coração, a verdade.
_______________ Miguel
Neto