sábado, 3 de outubro de 2015

A Lágrima de um Caeté - Nísia Floresta

Imagem: rioblog.net


(...) página 2
Lá, quando no ocidente o sol havia 
Seus raios mergulhado, e a noite triste 
Denso-ébanico véu já começava 
Vagarosa a estender por sobre a terra; 
Pelas margens do fresco Beberibe, 
Em seus mais melancólicos lugares, 
Azados para a dor de quem se apraz 
Sobre a dor meditar que a pátria enluta! 
Vagava solitário um vulto de homem, 
De quando em quando ao céu levando os olhos, 
Sobre a terra depois triste os volvendo... 
(...) 
 

(...) página 18

Não chores, ó Caeté, o amigo teu: 
Que caiu, não morreu, porque o bravo 
Constante defensor da pátria sua, 
Para a pátria não morre. 
(...)

(...) página 21

O bravo selvagem atônito ficou... 
- Quem és; lhe pergunta, infernal deidade? 
- Uma tal visão de inferno não sou: 
Sou cá deste mundo, a realidade. 
 

Volta às selvas tuas, vai lá procurar 
Alguns desses bens, que aqui te hão tirado: 
Não creias, ó mísero, jamais encontrar 
A paz, a ventura que aqui tens gozado. 
(...) 
  
  
(...) página 23 
 

Um movimento fez de impaciência 
Da natureza o filho. 
Seus braços estendendo à bela Virgem, 
Quis ir a seu socorro... 
Mas os olhos volvendo à terra vê 
Realidade horrível! 
- Dissipa as ilusões, filho dos bosques 
A meu rosto te afazei; 
E verás, que tão feia eu não serei, 
Como agora pareço, 
Se de ilusões a mísera humanidade 
Não amasse nutrir-se, 
Horrenda a face minha não seria 
A seus olhos depois... 
(...) 
 

(...) Página 56

E súbito o Caeté foi-se saudoso! 
................................ 
Nas margens do Goiana agora expande 
Sua dor ! 
 

- Goiana ! ... clama ele ali vagando, 
Mais triste do que lá o Beberibe: 
Onde está teu herói ? o filho teu ! 
- no céu ... 
 

- No céu ... responde o eco ! E sabe o mundo 
Suas grandes virtudes; sabe a glória, 
Que seu nome  deixou, nome imortal 
Na pátria ! ... 
 

E lá do Caeté 
O triste pungir, 
Com ele se foi 


No céu confundir !



______________________________________________ Nísia Floresta